YOGA – O QUE É?
Essas
quatro letras juntas significam muitas coisas. É muito mais do que as
palavras podem dizer.
O
Yoga é uma visão peculiar sobre o ser humano e seu papel na ordem das coisas,
bem como um caminho de autoanálise que pode ser colocado em prática,
prescindindo de qualquer teoria ou crença. Um caminho que conduz o homem a
compreender verdadeiramente a si mesmo.
Todo
mundo já ouviu dizer que Yoga significa em sânscrito união, mas Yoga
igualmente significa trabalho, aplicação. Ou seja, Yoga seria o
meio e o fim ao mesmo tempo. Jaideva Singh, no comentário do Vijñánabhairava
(p. XIII), um antigo texto tántrico, afirma:
A
palavra Yoga é usada tanto no sentido de união (com o Divino) como no de
veículo (upāya)
para essa união. [...] Desafortunadamente, nenhuma palavra foi tão profanada
nos tempo modernos como a palavra Yoga. Andar sobre o fogo, tomar ácido
lisérgico, parar o batimento cardíaco, etc. se consideram Yoga, quando, a bem
da verdade, não têm nada a ver com ele. Mesmo os poderes psíquicos [siddhis] não são Yoga. Yoga é
consciência; transformação da consciência humana em consciência divina.
Yoga
também é liberdade. Libertar-se de condicionamentos e preconceitos, por
exemplo. Está escrito na Bhagavadgītā: Yogaśkarmaśu kauśalam
(Yoga é perfeição na ação). Essa é uma visão tão ampla como simples da
prática: qualquer ato pode fazer-se como sādhana,
contínuo e constante.
deve
tomada literalmente no sentido de fazer uma ação “perfeita” em seus detalhes
(por essa conta, um hábil batedor de carteiras poderia ser considerado um
yogi), mas em fazer as ações em harmonia com o bem comum e com o reconhecimento
de que nosso privilégio é agir, e não tentar controlar ou escolher os
resultados das ações.
Noutras
palavras, perfeição significa viver consciente. Pátañjali explica o mesmo com
outras palavras: "Discernimento constante é o meio para destruir a
ignorância." (Yogasūtra,
II:26).
Por
outro lado, o Yoga não fica no plano das ideias nem se restringe unicamente a
uma série de exercícios feitos na sala de prática. Com isso em mente, podemos
dizer que praticar o Yoga é como participar de um jogo: conhecendo as
regras, jogamos por amor, relaxados, para conviver e estar junto àqueles que
amamos.
Mesmo
se você não tiver nenhuma experiência com Yoga, saiba que suas atividades
diárias, como trabalhar, criar os filhos ou estudar, também podem ser encaradas
como um sādhana. É por isso que o Yoga é um jogo, cuja única regra é
permanecer totalmente consciente o tempo todo, de cada ato, a cada momento.
Talvez
você possa achar, como muita gente, que o Yoga é algo separado de si próprio ou do seu dia a
dia. Algo que você faz, como ir às compras ou falar ao telefone. O Yoga é para
ser vivido, de maneira atenta e equânime. Esse viver consciente, essa atentividade constante é a essência da prática e
ao mesmo tempo o fruto do amadurecimento interior, que é um processo
gradual.
Por isso, não convém dizer "eu faço Yoga", pois, em verdade, você não faz Yoga. Ele já está feito! Você 'desliza' para o Yoga (união) em certos momentos, através das atitudes equânimes. Isso tem a ver com a sua existência, com o seu momento presente, com o ar que entra por suas narinas no mesmo instante em que você está aqui sentado lendo, pois o sādhana aponta para colocar a visão em prática. Se você não for usar o Yoga, para que vai querer estudá-lo? Isso equivaleria a contentar-se com ver uma foto da praia, ao invés de ir pessoalmente dar um mergulho nela.
Por isso, não convém dizer "eu faço Yoga", pois, em verdade, você não faz Yoga. Ele já está feito! Você 'desliza' para o Yoga (união) em certos momentos, através das atitudes equânimes. Isso tem a ver com a sua existência, com o seu momento presente, com o ar que entra por suas narinas no mesmo instante em que você está aqui sentado lendo, pois o sādhana aponta para colocar a visão em prática. Se você não for usar o Yoga, para que vai querer estudá-lo? Isso equivaleria a contentar-se com ver uma foto da praia, ao invés de ir pessoalmente dar um mergulho nela.
O
Yoga é para todos. Não é apenas para pessoas sadias ou só para doentes. É
para seres humanos, e não consiste em substituir o sistema de valores ou
mitologias do mundo ocidental por outro exótico, não é escapismo ou uma
resposta desesperada ao vazio que a sociedade oferece.
A
partir da definição que o sábio Patañjali dá no Yogasūtra, "Yoga é a supressão da
[identificação com] as modificações da psiquê", vemos que a prática começa
numa sede profunda de transcender os condicionamentos humanos; vemos a
necessidade de tornar cósmico o homem, de desenvolver as suas potencialidades
para conquistar a iluminação. O método através do qual o Yoga pretende
atingir esse objetivo é a reflexão sobre si mesmo, aliado a práticas que
possuem como único objetivo aniquilar os condicionamentos que nos escravizam.
Os
condicionamentos não nos deixam viver em paz e nos fazem repetir os mesmos
erros, ano após ano, ad eternum. Para 'sair da roda do karma', ou
seja, alcançar a liberdade verdadeira, o yogi precisa aniquilar um a um
esses condicionamentos na sua própria fonte: o inconsciente, a parte 'escura'
do ser.
Dizem os shastras que o caminho do Yoga começa 'quando o homem consegue quebrar a prisão das suas misérias'. O Yoga parte da condição humana desamparada, nua e crua, e tem o mérito sem par na história do pensamento de descobrir o verdadeiro potencial do homem: o da sua espiritualidade. A vida espiritual sempre começa no conflito interior, na sede de transcendência. E, neste kaliyuga, a era dos conflitos, requer muita mais pureza de coração, coragem e determinação que em outro tempo qualquer.
Dizem os shastras que o caminho do Yoga começa 'quando o homem consegue quebrar a prisão das suas misérias'. O Yoga parte da condição humana desamparada, nua e crua, e tem o mérito sem par na história do pensamento de descobrir o verdadeiro potencial do homem: o da sua espiritualidade. A vida espiritual sempre começa no conflito interior, na sede de transcendência. E, neste kaliyuga, a era dos conflitos, requer muita mais pureza de coração, coragem e determinação que em outro tempo qualquer.
Precisamos
quebrar o casulo da identificação com o ego para compreender quem somos. A Katha Upanishad
diz que o Yoga é ao mesmo tempo dissolução e emergência, morte e
renascimento (Yogah prabhāvapyayau). É preciso matar o apego às coisas
do ego para vivermos livres. Os ensinamentos do Yoga são somente acessíveis
através da praxis: o praticante deve pôr sob o jugo seu corpo e sua psique para compreender que
já é a liberdade que está buscando.
Múltiplo
em suas diferentes correntes e manifestações, ele é sempre fiel a um modo de
ver o homem e de servi-lo: após a severidade e paciência exigidas pela prática,
sente-se a calidez da sua solicitude carinhosa por todos e respeito por todo o
criado. Seu caminho é radical mas acessível e nos leva à conquista da
liberdade.
(Contribuição anônima de um swami)