EXERTOS DO Estudo sobre o grande médico e espírita, BEZERRA DE MENESES denominado o “Kardec brasileiro”
Escolhemos para falar hoje não só por
ele ter sido médico e espírita, mas principalmente pela sua vida na Terra ter
sido um modelo. Adolfo Bezerra de Menezes foi conhecido em seu tempo com o
Médico dos Pobres. Isto porque ele fazia mais do que ouvir o paciente e
prescrever um receituário com remédios homeopáticos (ele foi um médico
homeopata). Ele sofria também com o sofrimento de seus pacientes. Era todo amor
e bondade, alimentava sempre o desejo de ser útil e procurava a todo instante
arrancar de seu interior os maus instintos naturais e substituí-los pelas
virtudes cristãs.
Uma vez escreveu sobre a maneira de
proceder do verdadeiro médico, dizendo: O médico verdadeiro não tem o direito
de acabar a refeição, de escolher a hora, de inquirir se é longe ou perto. O
que não atende por estar com visitas, por ter trabalhado muito e achar-se
fatigado, ou pôr ser alta noite, mau o caminho ou o tempo, ficar longe, ou no
morro; o que sobretudo pede um carro a quem não tem com que pagar a receita, ou
diz a quem chora à porta que procure outro - esse não é médico, é negociante de
medicina, que trabalha para recolher capital e juros dos gastos da formatura
(...).1,2
E realmente, Bezerra foi capaz de
demonstrar na sua vida que realmente praticava seus ideais de amor cristão para
com seus semelhantes. Conta-se que numa tarde, depois de haver vivido um dia
cheio na sua tarefa crista, em que consolou e esclareceu, medicou e apaziguou
infinidades de irmãos, chegou ao Lar sentindo-se cansado e preocupado, tanto
mais que sua filha Evangelina, apelidada de Nhanhan, achava-se febril, abatida,
desassossegada.
Descansa, depois de haver tomado seu
banho e jantado, quando, à sua porta chega uma senhora aflita e lhe pede, entre
soluços, em nome de Jesus, para ir ver sua filhinha que se achava febril,
abatida, desassossegada. Bezerra se comove com as lágrimas maternais. Pensa na
sua filha também doente, a quem dera assistência e de cuja enfermidade não
encontrava a causa. Sente-se também cansado e com as pernas inchadas.
Mas a irmã a sua frente era um
estátua viva de dor e aflição e o chamava em nome de Jesus! Não podia
desatendê-la. E diz para sua querida esposa, que o observava atenta e também
aflita, procurando adivinhar sua solução e pedindo-lhe, pelo olhar, que não
fosse:
- Minha filha ficará sob os
cuidados de Jesus. E, em Seu nome, vou cuidar de outra filha. Até já.
E segue com a mãe aflitiva. Sobe e
desce morros. Depois de caminhada exaustiva, chega. Realiza sua tarefa,
medicando a doentinha, dando-lhe passes, receitando-lhe alguns medicamentos e
colocando-lhe à mesa algum dinheiro. E sai, deixando a doente melhor e a mãe
consolada e agradecida, a dizer-lhe: Vá com Deus, Dr. Bezerra! Que Deus lhe
pague o bem que me fez! Que possa encontrar sua filha melhor!
Chega ao lar tarde da noite. Encontra
tudo aquietado. E, receoso, pensando haver a filha piorado e até desencarnado,
entra às pressas. E encontra a esposa dormindo numa cama, e, noutra, sua Filha
também dormindo e sem febre...
Ali mesmo, em silêncio, ajoelha a alma e
agradece ao Divino Mestre por lhe haver sentido o testemunho e medicado a
filha, aquela que, mais tarde, em plena primavera de seus 18 anos, seria
chamada à espiritualidade para ser, de mais alto, seu anjo e seu estímulo.1
Podemos ver que Bezerra de Menezes
era mais do que um simples médico chegando-se mesmo a pensar se as curas que
operava se deviam aos remédios homeopáticos que ministrava ou eram resultado
dos fluidos energéticos de amor que emanavam a todo instante de sua alma. Ele
receitava pelos lábios e pela pena. Pelos lábios: conselhos, vestidos de emoção
e ternura, acordando nos consulente o Cristão que dormia; pela pena,
homeopatia, água fluídica e passes. E finalizava pedindo que cada um tivesse às
mãos, no lar, o Grande Livro, o Evangelho Segundo o Espiritismo, que o lesse
com alma, com sinceridade e confiança no seu Autor, Jesus Cristo! E como os
resultados eram promissores, cada doente deixava seu consultório satisfeito,
melhorado pois que havia deixado lá dentro o seu peso, a sua tristeza, algo que
o oprimia.1
Escreveu-nos uma vez Joaquim Murtinho
também médico homeopata e operador de muitas curas maravilhosas: os
ensinamentos da fé constituem receituário permanente para a cura positiva as
antigas enfermidades que acompanham a alma, século trás século (...) Se o homem
compreendesse que a saúde do corpo é reflexo da harmonia espiritual, e se
pudesse abranger a complexidade dos fenômenos íntimos que o aguardam além da
morte, certo que se consagraria à vida simples, com trabalho ativo e a
fraternidade legítima por normas de verdadeira felicidade2
De uma feita, um pai de família
pede-lhe, chorando, um óbolo, uma ajuda em dinheiro para enterrar o corpo de
sua esposa, que desencarnara, deixando-lhe os filhos menores doentes e
famintos. Bezerra procura algo nos bolsos e nada encontra. Comove-se e, por
intuição, desapegado das coisas materiais, tira do dedo o anel simbólico de
Médico e o entrega ao irmão necessitado, dizendo-lhe, com carinho e humildade:
Venda-o e, com o dinheiro, enterre o
corpo de sua mulher e compre o que precisa.1
Certa feita, acabada a sessão
espírita, descera Bezerra de Menezes ainda emocionado, as escadas da Federação
Espírita Brasileira, quando localizou um irmão, de seus 45 anos, cabelos em
desalinho, com a roupa suja e amarrotada.
Os dois se olharam, Bezerra
compreendeu logo que ali estava um caso todo particular para ele resolver. Oh!
Bendito os que têm olhos no coração! E Bezerra os tinha e os tem. E levou o
desconhecido para um canto e lhe ouviu, com atenção, o desabafo, o pedido:
- Dr. Bezerra, estou sem emprego, com
a mulher e dois filhos doentes e famintos... E eu mesmo, como vê, estou sem
alimento e febril!
Bezerra, apiedado, verificou se ainda
tinha algum dinheiro. Nada encontrou nos bolsos. Apenas a passagem do bonde...
Tornou-se mais apiedado e apreensivo. Levantou os olhos já molhados de pranto
para o alto e, numa prece muda, pediu inspiração a Maria Santíssima, seu anjo
tutelar e solucionador de seus problemas. Depois, virando-se para o Irmão:
- Meu filhos, você tem fé em Nossa
Senhora, a Mãe do Divino Mestre, a nossa Mãe Querida?
- Tenho e muita Dr. Bezerra!
- Pois, então, em Seu Santíssimo Nome,
receba este abraço.
E abraçou o desesperado Irmão, envolvente
e demoradamente. E, despedindo-se, disse:
- Vá, meu filho, na Paz de Jesus e sob
a proteção do Anjo da Humanidade. E, em seu lar, faca o mesmo com todos os seus
familiares, abraçando-os, afagando-os. E confie Nela, no amor da Rainha do Céu,
que seu caso há de ser resolvido.
Bezerra partira. A caminho do lar,
meditava: teria comprido seu dever, será que possibilitara ajuda ao irmão em
prova, faminto e doente? E arrependia-se por não lhe haver dado senão um
abraço. Não possuía nenhum dinheiro. O próprio anel de grau já não estava nos
seus dedos. Tudo havia dado. Não tendo dinheiro, dera algo de si mesmo,
vibrações, bom ânimo, moeda da alma, ao irmão sofredor e não tinha certeza de
que isso lhe bastara... E, neste estado de espírito, preocupado pela sorte de
um seu semelhante, chegou ao lar.
Uma semana passara-se. Bezerra não se
recordava mais do sucedido. Muitos eram os problemas alheiros. Após a sessão de
outra terça-feira, descia as escadas da FEB. Alguém no mesmo lugar da escada,
trazendo na fisionomia toda a emoção do agradecimento, toca-lhe o braço e lhe
diz:
- Venho agradecer-lhe, Dr. Bezerra, o
abraço milagroso que me deu na semana passada, neste local e nesta mesma hora.
Daqui saí logo sentindo-me melhor. Em casa, cumpri seu pedido e abracei minha
mulher e meus filhos. Na linguagem do coração, oramos todos à Mãe do Céu. Na
água que bebemos e demos aos familiares, parece, continha alimento. Pois
dormimos todos bem. No dia seguinte, estávamos sem febre e como que alimentados...
E veio-me a inspiração, guiando-me a uma porta, que se abriu e alguém por ela
saiu, ouviu meu problema, condoeu-se de mim e me deu um emprego, no qual estou
até hoje. E venho lhe agradecer a grande dádiva que o senhor me deu, arrancada
de si mesmo, maior e melhor do que dinheiro!
O ambiente era tocante! Lágrimas
caíam tanto dos olhos de Bezerra como do irmão beneficiado e desconhecido. E
numa prece muda, de dois corações unidos, numa mesma forca gratulatória, subiu
aos Céus, louvando Aquela que é, em verdade, a porta de nossas esperanças, a
Mãe Sublime de todas as mães, a advogada querida de todas as nossas causas!
Louvado seja Maria Santíssima!1
Bezerra de Menezes foi um
grande devoto de Maria Santíssima, a qual atendia sempre a seus divinos
pedidos. Era ela o seu fanal de consolação. Na verdade, Bezerra não foi
espírita desde que nasceu. Nascera em família afortunada e católica, a 29 de
agosto de 1831, em Riacho do Sangue, na Província do Ceará. Cresceu em clima de
severa dignidade, respeito e religiosidade. Devido à sua prestimosa
inteligência, inerente a todos os espíritos superiores, distinguiu-se nos
estudos desde cedo, sendo sempre o 1o aluno de sua classe. Em 5
de fevereiro de 1851, quando contava com 19 anos de idade, transferiu-se para a
Corte (atual Rio de Janeiro) para fazer seu curso médico. Nesta época seu pai,
homem de bom coração havia perdido a sua fortuna e não pode ajudar seu filho
financeiramente em seus estudos. Foi através de lutas, privações e renúncias
aos prazeres ilusórios do mundo, que Bezerra conseguiu, em 1856, doutorar-se em
Medicina.
A data de 16 de agosto de 1886
tornou-se memorável na História do Espiritismo no Brasil, por um acontecimento
que, nos meios políticos, religiosos e médicos, ecoou de maneira estrondosa,
causando mesmo surpresa e desapontamento para muitos, principalmente para os da
classe médica. É que, numa das costumeiras tertúlias que então se realizavam no
grande salão da Guarda Velha, em que compareceram cerca de 2 mil pessoas da
melhor sociedade, Bezerra de Menezes, então presente, pedindo a palavra,
proclamou solenemente a sua adesão ao Espiritismo. Essa sua filiação à nova
corrente religiosa foi como uma transfusão de sangue novo para a Doutrina no
Brasil, a qual daí por diante entrou em ritmo mais acelerado.1
Em 1895, em meio a divergências
havidas na FEB, e como obteve a maioria absoluta dos votos, Bezerra de Menezes
tornou posse da presidência da FEB. Durante toda a sua presidência (1895-1900)
trabalhou ativamente e com muito ardor no propósito de congraçar os
espiritistas, e jamais esmoreceu na luta a bem da unificação geral, mantendo
campanha sistemática em favor do estudo da nossa Doutrina e, sobretudo, seja
pela palavra falada, seja pela palavra escrita, mostrava a completa, integral interdependência
do Espiritismo e do Evangelho. Dizia mesmo que a pedra fundamental do
Espiritismo, em sua pura concepção, era o Evangelho. Sem ele a Terceira
Revelação não subsistiria e jamais se agigantaria nas consciências humanas.
Por Eva Patricia Baptista
Referências Bibliográficas:
1. Lindos Casos de Bezerra de
Menezes. Ramiro Gama.
2. Vida e Obra de Bezerra de
Menezes. Sylvio Brito Soares.
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