A
palavra Teosofia é de origem grega, "theos" (Deus), e
"sophos" (sabedoria), significando literalmente "sabedoria
divina", ou "conhecimento divino".
A Teosofia é
um corpo de conhecimento que sintetiza Filosofia, Religião e Ciência. Embora essa afirmação não seja reconhecida
universalmente, mas apenas por simpatizantes do ocultismo, pois creem que tanto
hoje como na antiguidade, a Teosofia se constitui na sabedoria universal e
eterna presente nas grandes religiões, filosofias e nas principais ciências da
humanidade,[1] e pode ser encontrada na raiz
ou origem, em maior ou menor grau, dos diversos sistemas de crenças ao longo da
história.
A
teosofia foi apresentada ao mundo moderno por Helena Blavatsky, no final do século XIX, e desde então vem sendo divulgada por
teosofistas em diversos países . Com seu caráter interdisciplinar, a teosofia
proporciona uma ponte entre as diversas culturas e tradições religiosas.
Segundo Blavatsky, “Teosofia é conhecimento divino ou ciência divina.”[2]
Origens
do nome
"[...]"Saber
Divino", θεοσοφία (Theosophia) é Sabedoria dos deuses,
como θεογονία (Theogonia), genealogia dos deuses. A palavraθεός,
em grego significa um deus, um dos seres divinos, e de modo nenhum
"Deus", no sentido que atualmente damos a esse termo."[3]
O
nome teosofia aparece no terceiro século da nossa era, cunhado por Amônio Sacas, fundador da Escola Eclética de Alexandria e pai do Neoplatonismo. Seu conceito porém existe há
mais tempo. Diógenes Laércio comenta
que ele já era conhecido antes daDinastia Ptolomaica do Egito e nomeia como seu formulador um hierofante chamado Pot Amum. Na Idade Média, Jacob Boehme era conhecido como um teosofista, e o
termo novamente foi utilizado nos Anais Teosóficos da Sociedade de
Philadelphia, publicado em1697, encontrando ainda
correspondência na filosofia hindu, onde “teosofia” equivale a Brahma-Vidya,
conhecimento divino. A palavra ganhou notoriedade a partir da fundação da Sociedade Teosófica por Helena Petrovna
Blavatsky e outros, em 1875.
A
Teosofia, segundo Blavatsky, é "o substrato e a base de todas as
religiões e filosofias do mundo, ensinada e praticada por uns poucos eleitos, desde
que o homem se converteu em ser pensador. Considerada do ponto de vista
prático, é puramente ética divina".[4]
EMBLEMA DA SOCIEDADE
TEOSÓFICA
O
Emblema da Sociedade Teosófica, sincretiza diversos conceitos básicos da
Teosofia, como os ciclos cósmicos, a eternidade da vida, e a polaridade
Espírito-Matéria.
Para
os teosofistas, este corpus de conhecimento, a Sabedoria
Divina, com a ética a ele associada,
é tão antigo quanto o mundo, e a rigor é o único conhecimento que vale a pena
ser adquirido. Sua realidade e importância são relembradas às pessoas
periodicamente, sob diversas denominações e formalizações, adequadas ao
espírito de cada época, local e povo para quem é apresentado, e é o tronco vivo
e eterno de onde brotam as flores do ensinamento original todas as grandes
religiões do mundo, do passado e do presente.[5] Segundo um dos inspiradores do
movimento teosófico moderno, oMestre K.H., a quem Blavatsky dizia seguir, "a
Teosofia não é uma nova candidata à atenção do mundo, mas é apenas uma
declaração nova de princípios que têm sido reconhecidos desde a infância da
humanidade".[6]
Considera-se
que a Teosofia strictu sensu seja isenta de identificação com
quaisquer culturas e sociedades específicas, sendo em vez a fonte original do
conhecimento divino que verte em uma determinada cultura através dos símbolos e arquétipos próprios daquele povo. Por exemplo, a
sabedoria divina foi transmitida à civilização do Egito antigo através dos símbolos, divindades, mitos, alegorias e arquétipos locais, possibilitando a
assimilação dos conceitos divinos através desta roupagem. E como no Egito,
também nas outras terras, a Grécia antiga, a Babilônia, Tibete, América, Europa e em todas as culturas, independente de
terem feito contato entre si, demonstrando que a Teosofia é uma sabedoria que
se expressa e pode ser conhecida por diversas fontes.
Quando
Blavatsky lançou o movimento teosófico moderno no século XIX valeu-se de uma
grande quantidade de elementos da tradição religiosa Hindu, que havia estudado durante sua permanência no
Tibete. Assim, sua apresentação compreende uma terminologia muitas vezes
baseada no idioma sânscrito, divulgando no ocidente conceitos como Maya (ilusão), Dharma (caminho) e Mahatmas(grandes almas). Outros conceitos fundamentais,
conhecidos há milênios no oriente, mas que a Teosofia popularizou no ocidente,
são a Reencarnação e
o Karma. Mas isso, como já foi exposto, não define a
Teosofia como uma filosofia hindu ou oriental, e diversas referências de outras
culturas e sistemas, como o Taoísmo, Budismo, Cabala, Cristianismo, Gnose e Hermetismo, remetem a Teosofia à sua essência divina e
universal.
Basicamente
a Teosofia prega a fraternidade universal, a origem espiritual das formas e dos
seres, e a unidade de toda a vida; aponta uma fonte única e eterna para todo
conhecimento, demonstra a identidade essencial entre os grandes mitos das
culturas mundiais, traça o perfil da estrutura do cosmo e do homem e descreve os mecanismos, suas
leis, suas potencialidades e suas transformações ao longo dos aeons.
Apesar
de recomendar o esforço próprio em busca do crescimento pessoal e uma
vigilância incessante contra o auto-engano e a fé cega, ainda assim defende
a Revelação, uma
vez que declara a existência de mundos e estados de consciência presentemente
inacessíveis à pessoa comum. Mas diz que todos seremos capazes de atingí-los um
dia, se não nesta vida, numa vindoura. Defende com isso, também a evolução da vida e do Homem, e a existência de
Homens Perfeitos, os Mahatmas ou Mestres de Sabedoria. Estes Mestres, uma vez
homens imperfeitos como nós, evoluíram para um estágio super-humano, de onde
ora velam pela raça humana dando-lhe ensinamento, diretamente ou através dos
mensageiros os Profetas e Santos de todas as religiões, e auxílios
inúmeráveis como agentes da Providência e da Justiça Divinas,
e mesmo aparecendo visivelmente entre os irmãos menos evoluídos, quando os
tempos o exigem, para dar-lhes conforto, direção e inspiração, e reacender nos
corações um amor mais intenso pelo divino.
A
Teosofia diz que a fonte de todo mal é a ignorância. O conhecimento, segundo
prega, é ilimitado, mas se bem que sua totalidade esteja além do alcance de
qualquer ser individual, é em vasta medida acessível a todos através de um
longo processo de evolução, aprendizado e aperfeiçoamento, que necessariamente
exige múltiplas encarnações, e continua até mesmo para regiões e idades onde a
encarnação deixa de ser compulsória e a vida progride de beatitude em
beatitude. A Teosofia é uma doutrina essencialmente otimista, pois refuta
qualquer condenação eterna e não nega o mundo, ainda que declare que este que
vemos e tocamos não é o único nem o maior, mais feliz ou mais desejável, e
prevê para todos os seres sem exceção um progresso constante e um destino
glorioso e absolutamente feliz. Como todas as grandes doutrinas espirituais, a
Teosofia exalta o bem, a paz, o amor, o altruísmo, e promove a cessação da pobreza, da
ignorância, da opressão, das discórdias e desigualdades.
Apesar
de reconhecer a importância das religiões em estado mais puro como
disseminadoras de ensinamentos importantes, não é uma filosofia teísta, se bem que possa ser descrita como panteísta, já que como um dos Mahatmas declara[7] com rigor cartesiano, a existência
de Deus como uma entidade distinta do universo
dificilmente pode ser provada, mas reconhece níveis diferentes de evolução
entre os seres, numa escada graduada que se ergue a alturas insondáveis.
HELENA P. BLAVATSKY
Entre
as exposições modernas da Teosofia mais importantes e originais estão sem
dúvida os escritos da própria Helena Blavatsky, que incluem Ísis sem véu (1877), A Doutrina Secreta (1888) e uma infinidade de panfletos, cartas e
artigos sobre o tema, traduzindo, divulgando e esclarecendo uma massa de
conceitos filosóficos e religiosos e princípios morais orientais, até então mal
conhecidos e ainda menos compreendidos pelos povos do ocidente. Além de pintar
um vasto painel da religião universal, utilizando especialmente o pensamento do
oriente, analisa os dados comparando-os com as tradições do ocidente, lançando
luz nova sobre pontos obscuros, desfazendo conceitos errôneos de nossas
próprias linhas de pensamento e em outros casos corroborando com definições
Hinduístas ou Budistas muitos dos elementos basilares das doutrinas Cristã, Judaica, Islâmica, Gnóstica e outras de importância para a metade
ocidental do globo.
Blavatsky
foi uma escritora prolífica e incandescente, e sua memória para fontes raras e
mesmo desconhecidas no ocidente era notoriamente prodigiosa. Contudo, de acordo
com a autora, muitas vezes foram usados meios esotéricos para a composição dos textos, não podendo
ela reivindicar a verdadeira autoria de grande parte do que havia escrito.[8] De qualquer forma, quando A
Doutrina Secreta apareceu, como uma continuação, ampliação e
aprofundamento de material já abordado em Ísis sem Véu, foi
imediatamente reconhecida como uma obra-prima por inúmeros luminares da Europa,
e é a pedra angular da Teosofia moderna. O texto é um debate filosófico
monumental, onde a autora cita uma profusão inacreditável de fontes e esgrime
com estonteante erudição argumentos históricos, antropológicos, arqueológicos,
mitológicos, filosóficos, biológicos, químicos, hermenêuticos, filológicos e
muitos outros, contra as superstições insensatas travestidas de dogmas das religiões, demonstrando a raiz comum a todos
os credos, e tecendo duros ataques a todo formalismo religioso vazio e a toda
fé cega, mas reconhecendo o valor de todas as Igrejas como instituições divinas e caminhos
válidos para o aperfeiçoamento pessoal e coletivo, sendo possuidoras de
parcelas importantes da Verdade Única. Seguiram-se outros escritos, e dentre
eles merece destaqueA Voz do Silêncio (1889), uma pungente e exaltada descrição do íngreme
mas glorioso Caminho que
leva à santidade, ao
mesmo tempo que é um manual prático para aspirantes.
Outros
seguidores imediatos também deram contribuições volumosas, valiosíssimas e
originais ao tesouro da Teosofia moderna, entre eles Annie Besant, Alfred Sinnett, Henry Olcott, Charles Leadbeater e George Mead,
e desde lá a literatura teosófica não cessou de crescer, com a produção mais
recente de Radha Burnier, Geoffrey
Farthing, Geoffrey Hodson e uma legião de
pensadores modernos.
A Teosofia na prática
A
Teosofia, com o vasto acervo de informações de variada natureza, sua didática cristalina, o idealismo e formosos
panoramas, oferece alimento espiritual e instrução prática para toda classe de
pessoas, do rude ao educado, do cientista ao devoto. A aquisição metódica e
progressiva do conhecimento teosófico, seja individualmente ou através de
associações e grupos de estudo ou Lojas Teosóficas, com sua necessária
aplicação prática, impele em todos os casos a uma mudança para melhor no estilo
de vida. Sua descrição científica, objetiva, mas não menos entusiasta e bela do
mundo, e a explicação clara dos mecanismos gerais invisíveis, esclarece o
propósito da existência, dissipa muitos terrores religiosos arcaicos, ensina a
evitar muitas aflições e sofrimentos supostamente inescapáveis, dá vida nova a
formas religiosas tradicionais cujo poder motivador se perdera para o fiel, e
ensina o caminho para uma vida material e espiritualmente frutífera em harmonia
com tudo o que vive, em obediência às leis eternas que regem e sustentam os
mundos manifestos. Também sistematiza técnicas graduadas de auto-aprimoramento
físico, moral e espiritual, e desvenda novos horizontes e novas possibilidades
para a humanidade a cada novo conceito apreendido e posto em prática, em
direção à materialização da Paz na terra a todos os seres.[9]
Influência
A
Teosofia teve um papel fundamental e revolucionário na evolução do pensamento
moderno do ocidente. No contexto intelectual e espiritual da época em que
apareceu, embora jamais tenha reivindicado para si o status de
nova religião, a Teosofia como exposta por Blavatsky representou na prática a
proclamação de um novo Evangelho universal, combatendo a forte tendência
materialista da ciência em rápido desenvolvimento, e que estava a esvaziar, com
os novos conhecimentos que trazia à luz sobre o mundo manifesto, as
instituições religiosas que continuavam a pregar suas histórias piedosas mas
irracionais, as quais começavam a se tornar um estorvo para o futuro
desenvolvimento da raça humana, com perigo de uma perda generalizada da fé. Sua
linguagem moderna traduziu e atualizou para o homem de hoje uma série de
conceitos importantes da espiritualidade antiga que já estavam obscurecidos e
fossilizados pela poeira secular das sucessivas más interpretações, e por isso
tornados inaceitáveis à nova mentalidade que surgia e que iniciava a questionar
as bases da fé em múltiplos aspectos, a partir da desafiadora massa de
evidências e conclusões, dificilmente constestável, produzida pelos cientistas.
O conhecimento que expôs e a forma em que o fez operou uma poda radical nas
intrincadas e tortuosas excrescências conceituais que faziam definhar a árvore
das religiões do ocidente, tornando mais uma vez claro, nítido e atraente o
tronco vivo, o que para muitos foi motivo de um reacender da devoção perdida,
mas ora em novas bases.
Com
sua abordagem lógica, positiva, ética e científica da natureza, do divino, do
homem, da vida, do misticismo e dos fenômenos ocultos, exerceu grande
influência em estadistas como Gandhi e artistas como Mondrian, Scriabin, Yeats e Fernando Pessoa (sem fonte confiável).
Além disso, deu subsídios a Igrejas progressistas como a Igreja Católica
Liberal, originou um sem-número de escolas, dissidências e
derivações mais ou menos inspiradas, e deu um impulso ao renascimento de cultos
arcaicos ou à fundação de outros de tom futurista que são encontráveis na
cultura ocidental de hoje, como os movimentos Wicca e New Age.
Polêmicas
A
Teosofia recebeu muitas críticas em sua origem, numa polêmica que se estende
aos dias de hoje, questionando tanto a doutrina como o caráter controverso de
sua principal divulgadora, Helena Blavatsky, e do seu colaborador Charles
Leadbeater.[10]
A
doutrina em si é encarada de várias formas depreciativas, considerando em suma
que não oferece provas suficientes para suas alegações, que conceitos básicos
são interpretados de modo conflitante pelos vários autores, que tem uma psicologia duvidosa e se resume em um amontoado de
superstições disseminadas por falsos místicos.[17]
A Teosofia no Brasil
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O
que se deve lembrar é que nunca os teosofistas se declararam infalíveis,
perfeitos ou imunes a ilusões e más-interpretações derivadas dos limites do
entendimento humano. O próprio Mahatma K.H. disse a respeito de Blavatsky
que " imperfeita como pode ser nossa agente visível - e
frequentemente ela é muito imperfeita e insatisfatória - ela é ainda assim o
melhor de que dispomos no momento", mas ao mesmo tempo reiterava suas
magníficas capacidades, sem paralelo para o trabalho que havia de ser feito.[18]
Além disso todas as grandes filosofias e
religiões do mundo foram criticadas com base no mesmo tipo de argumentos,
cabendo pois ao pesquisador tecer as suas próprias conclusões e reger o seu
comportamento baseado em sua experiência pessoal, na análise imparcial das
informações apresentadas e sobretudo no bom senso, um conselho reiteradamente
expresso por todos os principais expoentes do movimento teosófico, cujo mote
é Não há Religião superior à Verdade.[19]
A
Teosofia foi principalmente difundida no Brasil através do Professor Henrique José de
Souza, fundador em 1924 da Sociedade Espiritualista Dhâranâ,
posteriormente denominada Sociedade Teosófica Brasileira em homenagem a
Helena Blavatsky, e atualmente chamada de Sociedade
Brasileira de Eubiose. Atualmente a Sociedade
Teosófica internacional também opera no Brasil, sob o nome de Sociedade Teosófica no Brasil.
No
Brasil a Teosofia ganhou novas frentes de estudo ao explorar o conhecimento e a
história antiga dos povos nativos brasileiros. O Professor Henrique, recolhendo
símbolos e arquétipos antigos formou, no início do século XX, as bases para a Teosofia Brasileira,
que é a apresentação dos mesmos arquétipos através da cultura nativa e de
civilizações pré-colombianas.
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